José Ricardo Sarmento: “O deputado me ameaçou. Ele me disse: ‘Se você abrir a boca, vou pagar com a mesma moeda. Nem se meu pai me pedir eu vou te ajudar”
O ex-assistente legislativo da Assembléia Legislativa do Espírito Santo (ALES), José Ricardo Sarmento, residente e São Domingos do Norte, confessou que foi contratado pelo deputado estadual Luciano Pereira (DEM), candidato a prefeito de Barra de São Francisco, para prestar serviço em seu gabinete. Acontece que José Ricardo recebia menos de um salário mínimo. José Ricardo apresentou um contra-cheque emitido pela ALES em março de 2007 no valor líquido de R$ 3.096,20. Segundo ele, o seu cartão salário para receber seus vencimentos ficava em poder de um funcionário do gabinete do deputado Luciano Pereira que ele identifica apenas como Everton, e que era o responsável por entregar a sua parte do salário.
Por estar dividindo seu salário com o deputado Luciano Pereira, José Ricardo passou por momentos difíceis na capital, já que deveria estar em Vitória todos os dias úteis da semana para cumprir o seu horário na ALES. Inclusive, José Ricardo falou que procurou o deputado Luciano Pereira várias vezes e ele sempre dizia que ‘não queria saber de nada’.
– “Procurei o deputado várias vezes e ele sempre dizia que não queria saber de nada não. Procurava o Everton e dizia: ‘ô Everton, me dá uns trocados aí’. Ele dizia: ‘rapaz, posso fazer nada, o Estado tá devendo isso, tá devendo aquilo, e tal’. Teve um dia que eu apertei o Everton e ele me respondeu que eu aceitei o emprego porque eu quis. Eu estava praticamente passando fome”, afirmou José Ricardo.
Além do salário que José Ricardo dividia, o deputado Luciano Pereira também ficava com todos os benefícios como férias, 13º salário e outros. Segundo José Ricardo, os saques eram feitos em qualquer agência bancária do Banestes, desde Vitória até Barra de São Francisco.
– “Fui procurado pelo Ministério Público para prestar alguns esclarecimentos e tive que mentir para a Justiça. Eles me perguntaram por que eu realizava tanto saque em minha conta em locais diferentes. Como por exemplo: o último saque foi feito no aeroporto de Vitória. O promotor sabia que eu estava mentindo como também sabia da situação em que eu vivia. Eu dependia do emprego para sobreviver. Me entregaram um cartão e disseram: ‘Olha, quando você quiser ser amigo da Justiça, nos procure’. Inclusive descobriram até uma transferência da minha conta para a conta do pai do Everton. Eu nem conheço o pai do Everton. Eu nem sabia a senha da minha conta porque o cartão ficava com eles”.
José Ricardo Sarmento teve sua função mudada na ALES, ele deixou o cargo de assistente legislativo para ocupar uma vaga de adjunto. A partir de então, José Ricardo diz que passou a ficar com o seu salário integral, porém no valor muito abaixo do de assistente legislativo. Em 2011, José Ricardo foi exonerado e voltou a procurar o deputado Luciano Pereira.
– “Procurei o deputado em Barra de São Francisco, ele não me atendeu. Fui até o gabinete dele na ALES. Quando ele me viu me disse que já sabia o que eu queria. Ele me falou: ‘Já sei o que você quer. Pode fazer o que você quiser. Agora, o que você fizer, vai pagar com a mesma moeda. Pode denunciar que eu vou pagar com a mesma moeda’. Eu falei: ‘deputado, o senhor está me ameaçando’. Ele falou claramente dentro do gabinete: ‘Morreu o assunto daqui pra frente’. Eu respondi: ‘Então não tem como o senhor me ajudar não’. Ele finalizou: ‘Nem se meu pai me pedir’. Pra mim ele é um cara arrogante. Quando ele estava precisando de mim tudo bem. Agora, depois…”.
O caso foi denunciado ao Ministério Público Estadual e deverá também ser investigado pela Assembléia Legislativa do Espírito Santo.
(Com informações de Claudio Caterinque, O Trovão)